Fico nervoso, me agito,
quero dar um grito, me incomodo
profundamente quando leio ou ouço um “analista”, ou “articulista”, ou “comentarista”,
jornalista ou não - importa apenas que ganhe seu sustento transmitindo
informação -, emitindo críticas, opiniões e avaliações sobre causas e
consequências de ações de poder como se estas fossem apenas uma característica pessoal,
intrínseca à personalidade, à sua natureza. Tal conclusão é absolutamente errônea,
apesar de o poder, para ser exercido, precisar partir de alguém com uma base
moral que o sustente, caso contrário ele é só um “mané” como todos nós.
É plausível, admissível, aceitável,
que o cidadão comum, o ser humano integrante da massa de governados, atribua a
um indivíduo a condição de poderoso como um atributo inerente à sua
personalidade. No abismo que separa as realidades de informação e conhecimento
destes dois, o opressor e oprimido – é disto que se trata o exercício do poder –,
atribuir e concentrar o poder em um só indivíduo é a única alternativa à disposição
para “enxergar” e justificar o que quer que esteja acontecendo.
Mas um “jornalista”? Um pretenso “especialista”? Não, aí não dá, fica difícil, pelo menos para mim, aceitar. Tenho imenso respeito por vários profissionais que se mantiveram e se mantêm nas trincheiras da resistência, da rebeldia, contra a destruição a que o país está submetido. Não preciso citá-los, nem os que estão aqui, nem os que estão fora, quem acompanha em alguma medida o noticiário político sabe quem são. Mas, exceções raras à parte, eu os critico por manterem o público apartados da realidade do que acontece no poder político atual fazendo acrobacias verborrágicas que, obviamente, servem para proteger o próprio bolso e pescoço. Mas só. Esta é a única razão que encontro, pois expor a realidade do poder é deixado para trás das câmeras
Ninguém “tem” poder! Fulano
não tem poder. Sicrano não é perverso apenas porque é naturalmente perverso. A perversidade,
psicopata ou não, por si só não significa poder, apenas aptidão para o poder. A
perversidade para se realizar precisa de um instrumento que a possibilite. Nos
andares de baixo das sociedades, o poder perverso é concedido pela força física
e pelas armas. Nos andares de cima, nos governos, em todos os governos, mas
especialmente nos tirânicos, ele é concedido pelos beneficiados da concessão
que é dado ao perverso “mais habilidoso”.
Beltrano não tem poder. Ele
está no exercício de um poder que lhe foi concedido pelo conjunto de indivíduos
e entidades que se beneficiam ou irão se beneficiar das ações, perversas ou
não, daquele a quem, na intimidade dos conchavos de pé-de-ouvido, “elegeram” para
representá-los.
Portanto, quando se mira no indivíduo,
o alvo está errado, não importa seu nome, nem se é tratado de “Excelência”, “Excelentíssimo”
ou “Digníssimo” . Não é expondo e combatendo o “representante” que as sociedades
podem derrubar o poder arbitrário. Há que se expor publicamente todos os
concessores. Há que se arrancar as capas que escondem os reais sustentadores do
phoder político, com h. Sim! Porque o poder é legítimo quando objetiva
um fim humanamente legítimo, mas absolutamente ilegítimo quando seu fim, o phoder
com h, é o esmagamento da vontade, da liberdade e dos direitos intrínsecos à natureza
dos seres humanos.
Tenho dito, com base na
história da civilização ocidental, que todos os governantes depostos de seus
tronos, o foram pelos insatisfeitos de dentro. O motivo é simples. Enquanto a
ideologia serve de guarda-chuva para o objetivo comum de chegar e se manter no phoder,
com h, os intere$$e$ são sempre particulares, o que, em certo momento, sempre
acaba criando um contingente daqueles que, por não serem atendidos em seus intere$$e$,
$ua$ demanda$, passam, de amigos do Rei a seus algozes. Isto não significa que
os cidadãos não tenham papel neste jogo. A insatisfação popular com as arbitrariedades
dos phoderosos é o fundamental combustível que alimenta e justifica a ação dos
adversários. O parlamento nem sempre age em nome dos cidadãos, mas sempre há de
preferir agir sobre demandas dos eleitores, se elas houverem.
Para que meu leitor não pense
que tais palavras habitam apenas a mente deste irrelevante “mané” brasileiro, reproduzo
a seguir algumas passagens escritas por Ludwig von Mises, em sua obra “Ação Humana”
– uma das mais importantes de sua autoria. Você as encontrará entre as páginas
178 e 181. Ei-las (os grifos são meus):
“A sociedade é um produto da
ação humana. A ação humana é dirigida por ideologias. Assim, a sociedade e
qualquer ordem concreta de assuntos sociais são resultados de ideologias.”
“Então, a definição de poder
é a habilidade de acionar as ações de outras pessoas. Aquele que é poderoso
deve sua força a uma ideologia. Somente as ideologias podem transmitir ao
homem o poder de influenciar as escolhas e a conduta de outras pessoas. Alguém
pode se tornar um líder apenas se for apoiado por uma ideologia que torne as
outras pessoas tratáveis e complacentes. O poder não é, portanto, algo
físico e tangível, mas um fenômeno moral e espiritual. O poder de um rei
repousa no reconhecimento da ideologia monárquica por parte de seus súditos.”
“Aquele que usa seu poder para
dirigir o estado - o aparato social de coerção e compulsão - é quem governa. (...)
A regra é sempre baseada em poder, ou seja, a autoridade para controlar as
ações de outras pessoas.”
“É claro que é possível
estabelecer um governo sobre a opressão violenta de pessoas relutantes. É
típico do estado e do governo que eles apliquem a coerção violenta ou a sua
ameaça contra quem não está preparado para ceder voluntariamente. No
entanto, essa opressão violenta não é menos fundamentada no poder ideológico. Quem
queira aplicar violência precisa da cooperação voluntária de algumas pessoas.
Um indivíduo inteiramente dependente de si mesmo nunca pode governar apenas por
meio da violência física. Ele precisa do apoio ideológico de um grupo para
subjugar outros grupos. O tirano deve ter um séquito de partidários que
obedecem às suas ordens por vontade própria. Essa obediência espontânea lhe
fornece o aparato necessário para a Conquista de outras pessoas. Se ele
consegue ou não conquistar sua influência, isso depende da relação numérica dos
2 grupos, daqueles que o apoiam voluntariamente e daqueles a quem ele controla
por submissão. Embora um tirando possa por um tempo governar através de uma
minoria, caso esta minoria esteja armada e a maioria não, a longo prazo a
minoria pode dominar a maioria. Os oprimidos irão rebelar-se e abandonarão o
jugo da tirania.”
“Governantes que não
reconheceram este princípio de governo e confiando na suposta investida
irresistível de suas tropas armadas, desdenharam o espírito e as ideias, no
fim, foram derrubados pelos ataques de seus adversários.”
“Aquele que interpreta o
poder como algo físico ou ‘real’ a ser levado adiante, e considera a ação
violenta como a real base de governo, vê as condições do estreito ponto de
vista dos oficiais subalternos encarregados das seções de um exército, ou força
policial.”
“O chefe de governo deve
visar a preservação do moral das forças armadas e da lealdade do resto da
população, pois esses fatores morais são os únicos elementos reais sobre os
quais repousa a continuidade de seu domínio. Seu poder diminui caso a
ideologia que o sustenta perca as forças.”
“A opinião pública de um
país pode ser ideologicamente dividida, de tal forma que nenhum grupo seja
forte o bastante para estabelecer o governo durável.”
Terminando. Se você quer
entender o que acontece à sua volta, se pergunte sempre: que interesses estão
sendo protegidos? No âmbito da alta política provavelmente você não conseguirá
ter a resposta, mas tenha a absoluta certeza de que intere$$es particulares
estão sendo protegidos, mesmo que isto signifique a perda de seus
direitos “inalienáveis”.