segunda-feira, abril 21, 2025

O ALVO ERRADO – TODO PODER É CONCEDIDO

 

Fico nervoso, me agito, quero  dar um grito, me incomodo profundamente quando leio ou ouço um “analista”, ou “articulista”, ou “comentarista”, jornalista ou não - importa apenas que ganhe seu sustento transmitindo informação -, emitindo críticas, opiniões e avaliações sobre causas e consequências de ações de poder como se estas fossem apenas uma característica pessoal, intrínseca à personalidade, à sua natureza. Tal conclusão é absolutamente errônea, apesar de o poder, para ser exercido, precisar partir de alguém com uma base moral que o sustente, caso contrário ele é só um “mané” como todos nós.

É plausível, admissível, aceitável, que o cidadão comum, o ser humano integrante da massa de governados, atribua a um indivíduo a condição de poderoso como um atributo inerente à sua personalidade. No abismo que separa as realidades de informação e conhecimento destes dois, o opressor e oprimido – é disto que se trata o exercício do poder –, atribuir e concentrar o poder em um só indivíduo é a única alternativa à disposição para “enxergar” e justificar o que quer que esteja acontecendo.

Mas um “jornalista”? Um pretenso “especialista”? Não, aí não dá, fica difícil, pelo menos para mim, aceitar. Tenho imenso respeito por vários profissionais que se mantiveram e se mantêm nas trincheiras da resistência, da rebeldia, contra a destruição a que o país está submetido. Não preciso citá-los, nem os que estão aqui, nem os que estão fora, quem acompanha em alguma medida o noticiário político sabe quem são. Mas, exceções raras à parte, eu os critico por manterem o público apartados da realidade do que acontece no poder político atual fazendo acrobacias verborrágicas que, obviamente, servem para proteger o próprio bolso e pescoço. Mas só. Esta é a única razão que encontro, pois expor a realidade do poder é deixado para trás das câmeras 

Ninguém “tem” poder! Fulano não tem poder. Sicrano não é perverso apenas porque é naturalmente perverso. A perversidade, psicopata ou não, por si só não significa poder, apenas aptidão para o poder. A perversidade para se realizar precisa de um instrumento que a possibilite. Nos andares de baixo das sociedades, o poder perverso é concedido pela força física e pelas armas. Nos andares de cima, nos governos, em todos os governos, mas especialmente nos tirânicos, ele é concedido pelos beneficiados da concessão que é dado ao perverso “mais habilidoso”.

Beltrano não tem poder. Ele está no exercício de um poder que lhe foi concedido pelo conjunto de indivíduos e entidades que se beneficiam ou irão se beneficiar das ações, perversas ou não, daquele a quem, na intimidade dos conchavos de pé-de-ouvido, “elegeram” para representá-los.

Portanto, quando se mira no indivíduo, o alvo está errado, não importa seu nome, nem se é tratado de “Excelência”, “Excelentíssimo” ou “Digníssimo” . Não é expondo e combatendo o “representante” que as sociedades podem derrubar o poder arbitrário. Há que se expor publicamente todos os concessores. Há que se arrancar as capas que escondem os reais sustentadores do phoder político, com h. Sim! Porque o poder é legítimo quando objetiva um fim humanamente legítimo, mas absolutamente ilegítimo quando seu fim, o phoder com h, é o esmagamento da vontade, da liberdade e dos direitos intrínsecos à natureza dos seres humanos.

Tenho dito, com base na história da civilização ocidental, que todos os governantes depostos de seus tronos, o foram pelos insatisfeitos de dentro. O motivo é simples. Enquanto a ideologia serve de guarda-chuva para o objetivo comum de chegar e se manter no phoder, com h, os intere$$e$ são sempre particulares, o que, em certo momento, sempre acaba criando um contingente daqueles que, por não serem atendidos em seus intere$$e$, $ua$ demanda$, passam, de amigos do Rei a seus algozes. Isto não significa que os cidadãos não tenham papel neste jogo. A insatisfação popular com as arbitrariedades dos phoderosos é o fundamental combustível que alimenta e justifica a ação dos adversários. O parlamento nem sempre age em nome dos cidadãos, mas sempre há de preferir agir sobre demandas dos eleitores, se elas houverem.

Para que meu leitor não pense que tais palavras habitam apenas a mente deste irrelevante “mané” brasileiro, reproduzo a seguir algumas passagens escritas por Ludwig von Mises, em sua obra “Ação Humana” – uma das mais importantes de sua autoria. Você as encontrará entre as páginas 178 e 181. Ei-las (os grifos são meus):

 

“A sociedade é um produto da ação humana. A ação humana é dirigida por ideologias. Assim, a sociedade e qualquer ordem concreta de assuntos sociais são resultados de ideologias.”

“Então, a definição de poder é a habilidade de acionar as ações de outras pessoas. Aquele que é poderoso deve sua força a uma ideologia. Somente as ideologias podem transmitir ao homem o poder de influenciar as escolhas e a conduta de outras pessoas. Alguém pode se tornar um líder apenas se for apoiado por uma ideologia que torne as outras pessoas tratáveis e complacentes. O poder não é, portanto, algo físico e tangível, mas um fenômeno moral e espiritual. O poder de um rei repousa no reconhecimento da ideologia monárquica por parte de seus súditos.”

“Aquele que usa seu poder para dirigir o estado - o aparato social de coerção e compulsão - é quem governa. (...) A regra é sempre baseada em poder, ou seja, a autoridade para controlar as ações de outras pessoas.”

“É claro que é possível estabelecer um governo sobre a opressão violenta de pessoas relutantes. É típico do estado e do governo que eles apliquem a coerção violenta ou a sua ameaça contra quem não está preparado para ceder voluntariamente. No entanto, essa opressão violenta não é menos fundamentada no poder ideológico. Quem queira aplicar violência precisa da cooperação voluntária de algumas pessoas. Um indivíduo inteiramente dependente de si mesmo nunca pode governar apenas por meio da violência física. Ele precisa do apoio ideológico de um grupo para subjugar outros grupos. O tirano deve ter um séquito de partidários que obedecem às suas ordens por vontade própria. Essa obediência espontânea lhe fornece o aparato necessário para a Conquista de outras pessoas. Se ele consegue ou não conquistar sua influência, isso depende da relação numérica dos 2 grupos, daqueles que o apoiam voluntariamente e daqueles a quem ele controla por submissão. Embora um tirando possa por um tempo governar através de uma minoria, caso esta minoria esteja armada e a maioria não, a longo prazo a minoria pode dominar a maioria. Os oprimidos irão rebelar-se e abandonarão o jugo da tirania.

“Governantes que não reconheceram este princípio de governo e confiando na suposta investida irresistível de suas tropas armadas, desdenharam o espírito e as ideias, no fim, foram derrubados pelos ataques de seus adversários.”

“Aquele que interpreta o poder como algo físico ou ‘real’ a ser levado adiante, e considera a ação violenta como a real base de governo, vê as condições do estreito ponto de vista dos oficiais subalternos encarregados das seções de um exército, ou força policial.”

O chefe de governo deve visar a preservação do moral das forças armadas e da lealdade do resto da população, pois esses fatores morais são os únicos elementos reais sobre os quais repousa a continuidade de seu domínio. Seu poder diminui caso a ideologia que o sustenta perca as forças.

“A opinião pública de um país pode ser ideologicamente dividida, de tal forma que nenhum grupo seja forte o bastante para estabelecer o governo durável.”

 

Terminando. Se você quer entender o que acontece à sua volta, se pergunte sempre: que interesses estão sendo protegidos? No âmbito da alta política provavelmente você não conseguirá ter a resposta, mas tenha a absoluta certeza de que intere$$es particulares estão sendo protegidos, mesmo que isto signifique a perda de seus direitos “inalienáveis”.

Paulo Vogel

Neste meio, nós somos a mensagem.

Abril/25

No Youtube assista o canal PODPAULOS: @paulinhooalteregodepaulao

 

quinta-feira, março 27, 2025

O AUTOCENTRISMO ALTRUÍSTA


No texto “O Altruísmo Egoísta” tratei sobre minha visão de que toda ação altruísta é, na realidade, um egoísmo disfarçado, um altruísmo de máscara, um falso altruísmo.

O egoísmo é um conceito moral, é uma avaliação que fazemos sobre as ações dos outros com base em normas culturais que visam regular nosso comportamento social.

Um egoísta, nesta visão, age exclusivamente em seu benefício, sem considerar e respeitar o direito e os interesses de outros à sua volta. Considera que a pessoa age sob o lema “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Mas, neste rótulo, há, quase sempre, a presença de dois ingredientes:  preconceito e inveja. O primeiro, devido à ideia de que o benefício da ação egoísta não deveria ser dado "àquele tipo” de indivíduo. O segundo, devido à percepção de “porque ele e não eu?”.

Descarto, portanto, que o egoísmo seja uma característica imanente ao ser humano. Considero uma aquisição cultural à medida em que é considerado como uma pretensa necessidade para a conquista de melhor posição na escalada social no mundo civilizado.

Tenho a convicção, esta sim, de que só agimos no interesse da proteção à nossa existência como princípio primeiro e maior, o que vai além da mera subsistência do organismo.

Fui passar alguns dias com a família de meu filho que mora no exterior. Não lembro do motivo, mas em um dos papos com meu neto de 14 anos, lhe disse que o interesse próprio é o que move as pessoas. Recebi, do alto de sua inocente arrogância adolescente, um sorrisinho e um olhar que diziam: “esse meu vô é meio maluquinho, ele diz cada coisa!”. Percebi e pensei: “Hum, tenho que lhe provar o que disse”. No dia anterior, motivado pela reclamação da mãe que me dissera, com exagero, que os dois irmãos “não ajudavam em nada”, eu provocara meu neto com o chiste “o pior cego é o que não vê a louça suja na pia”. A minha “inocente” provocação surtiu efeito, pois no dia seguinte o peguei lavando toda a louça do almoço. Fiquei quieto e quando surgiu o momento adequado, lhe perguntei:

- “E aí Vinny, por que você lavou a louça?”.

- Ah! Vô, porque eu quis!

- Ah! É! E por que você quis?

- Pra minha mãe não reclamar.

- Ah! É! Então foi por interesse de agradar sua mãe! Entendi.

Em lugar do sorrisinho, recebi um sorrisão do tipo “Hehe, meu avô me pegou nessa!”. E nos dias seguintes conversamos sobre o papel do “interesse” próprio nas decisões que tomamos em nosso dia a dia.

Isto não é egoísmo, é autocentrismo. É ter como guia da tomada de decisão, das mais simples às mais complexas, o interesse próprio, interesse que está basicamente subordinado à proteção de nossa existência física e, principalmente, mental. Enquanto a riqueza trás conforto e redução do desgaste físico, é a percepção de que nossa existência está protegida, a condição e razão para nos sentirmos bem[1].

Enquanto no egoísmo o mote da ação é o retorno para si independente do outro, no autocentrismo o mote é a satisfação espiritual, exatamente por levar em consideração a existência do outro.

O autocentrismo é o incentivo à generosidade (altruísmo). Enquanto o egoísta desconsidera qualquer outro, pois se basta, o autocentrado TEM QUE considerar o outro, caso contrário ele falha em seu objetivo de sentir-se bem, de estar bem com sua existência espiritual.

O conceito de egoísmo é moral e está sob o âmbito da sociologia. O autocentrismo faz parte do comportamento ético[2] e, portanto, da antropologia, e indo mais fundo, da biologia, do estudo da natureza humana.

A Sociologia, cujo propósito é entender o comportamento humano no meio social, só será útil quando se concentrar no primeiro objetivo da vida: a proteção à sua estabilidade existencial.

De resto, é só discurso de intenção moralista.

Paulo Vogel

Mar/25

Neste meio, eu e você, somos a mensagem.


[1] Evito os termos “feliz” e “felicidade” por serem conceitos subordinados a valores pessoais e difíceis de serem definidos.

[2] No texto “Há diferença entre moral e ética?” exploro a questão.


quarta-feira, março 19, 2025

O LÍDER POSSÍVEL, NUMA GUERRA SEM LÓGICA

 

O autoexílio[1] de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, me fez retroagir no tempo em busca do fundamento de tal decisão, e, forçosamente fui levado a dar uma olhada nas decisões de Jair Bolsonaro no exercício da Presidência da República e recordar avaliações que fiz sobre algumas delas desde 2018.

Minha primeira apreensão surgiu em 2018, logo no período de transição, quando publiquei “Carta Aberta ao Presidente Eleito” onde escrevi:

“Não queremos o retorno de um militarismo no comando do país. Militares, por essência e obrigação, são subordinados a uma hierarquia rígida que não admite processos democráticos que levam em conta o jogo de forças contrárias. É fundamental que assim seja para o cumprimento do papel das Forças Armadas como prevê a Constituição. Admitir um militar da reserva como seu vice, é plenamente justo e aceito por todos como ficou provado. Admitir um General da ativa como Ministro da Defesa, é sensato e correto. Mas é aí que a participação de militares no poder deve terminar, (...).”

Considerando que o âmbito de suas relações pessoais era muito limitado, o que não lhe dava muitas alternativas para compor um entorno de confiança, talvez eu tenha sido simplista demais naquela análise.

Hoje, depois de 7 anos, e consequente do dito acima, posso enxergar 2 razões para Bolsonaro ter se cercado de militares:

1.    Sua história como deputado em 7 mandatos, calcada na defesa dos interesses das FFAA. Sua sonhada estratégia foi a de receber dos militares uma retribuição na forma de proteção a seu mandato, pois sua eleição, não imaginada pelo PT, não sairia “barata”  no que dependesse de todos os quadros da esquerda a serem defenestrados do poder por ele após a posse e jogados no papel de oposição como prêmio de consolação.

Não era isso que estava na alça de mira dos Generais, Marechais e Brigadeiros. O objetivo deles era tão somente uma aposentadoria tranquila, Bolsonaro foi útil até enquanto eles estavam na carreira. Agora que chegaram...

2.    Seu currículo, como deputado, é mais qualificado que os de 90% dos parlamentares. Ao longo dos mandatos, foi além de marcar presença para garantir as benesses, fez seus discursos, proposições, críticas, acordos e esteve à frente de umas 3 ou 4 comissões. Nunca se mostrou um líder, pois, em suas 4 tentativas de assumir a presidência da Câmara, foi mais do que derrotado, foi desconsiderado - recebeu menos de meia dúzia de votos. Isto não é um demérito, é a constatação de que o combustível da liderança não está em seu sangue.

Começou, portanto, com seu projeto de governança com falhas nos alicerces.

Minha segunda apreensão, e aí uma comprovação das consequências imaginadas na primeira, veio, em 24 de abril de 2020, a nomeação de Ramagem como Diretor-Geral da Polícia Federal,  em consequência da saída de Mauricio Valeixo, demissão que iniciara uma crise de governo que ainda levou de roldão a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Um recuo inexplicável quando tinha a população e a Constituição a seu favor, não fosse minha certeza quanto a pressões recebidas de seu círculo verde-oliva, diria que beirou a covardia. Mais tarde ouvi um buchicho, não mais que um buchicho, que pouco depois da posse, houvera uma consulta de ministros do STF aos integrantes do Alto Comando do Exército, sobre se eles teriam objeção quanto a iniciarem uma reação objetivando a retirada de Bolsonaro do poder. Teriam recebido um "segue em frente", dizem as más línguas.

Todo poder é uma concessão de representatividade que outros lhe conferem para agir em nome de seus (deles) interesses. Não é que Bolsonaro não soubesse disso. Ele não percebeu que depois de 28 anos - tempo de seus 7 mandatos - os interesses daqueles que ele defendera tinham mudado, tinham "evoluído". Eles agora só queriam "botar o pijama" e garantir uma aposentadoria "digna". Se todo poder é delegado, o consentimento para governar, nestas circunstâncias, não era possível de lhe ser dado.

De qualquer modo, mais pra cá ou mais pra lá, ali acabou o governo, e a prova foi a percepção pelo "deep state" de que o Presidente não tinha a necessária delegação de poder para exercer o mandato recebido por uma maioria de eleitores.

O que isto me prova? Jair Messias Bolsonaro, de "líder político", só detém a qualificação de "político", e político experiente, diga-se, comprovado em 7 concursos. De líder capaz de uma empreitada de transformações radicais como ele anunciou e a maioria da sociedade esperava, nem cheiro. Sem chance.

Para obter a representatividade delegada, um pretendente a liderar uma maioria em marcha acelerada para o poder executivo, tem que ter, no mínimo, em minha opinião, algumas características necessárias que Bolsonaro não tem ou não a tem na intensidade exigida:

1. Ousadia para propor caminhos novos e bandeira para comunicar. Liderar para o mesmo? Não tem sentido.

2. Convicção de suas propostas e  compromisso em efetivá-las.

3. Coragem e ânimo para enfrentar e derrotar os inimigos.

4. Abnegação e compromisso. Isto significa prioridade maior,  acima de família, amigos, carreira profissional e lazer.

Bolsonaro não tem, em sua natureza, tal conjunto. Ele almejou a presidência pelo inconformismo, pela vontade e desejo de realizar, em vez de pelo poder de realizar. Entre desejo e poder, estão, ou não estão, as circunstâncias para realizar.

Bolsonaro foi – e ainda é – o líder possível nesta guerra sem lógica - porque é contra os cidadãos brasileiros -, e, se já lógica, esta é apenas q do poder pelo phoder. E para esta, ele não tem cacoete de líder. Desembainhar a espada e bradar “liberdade ou morte” não é uma alternativa de um capitão. Sua opção, por personalidade, é participar do jogo como coadjuvante, como ajudante de ordens, jamais como General de Campo.

Se meu Leitor pensar sobre a justificativa de convocação só para o Rio de Janeiro, desse 16 de março passado, entenderá que a decisão de restrição da participação popular em todo o  Brasil, se deveu a seu medo de perder o controle e correr o risco de dar mais esdrúxulos e insanos argumentos ao Iluminado Supremo para realizar o tão almejado desejo de jogá-lo numa cela, mesmo que não seja tão fria. O resultado, infelizmente para nós, apoiadores e/ou admiradores e/ou seguidores deste líder possível, é o de aceitarmos a realidade inspirada na previsão de Churchill a Chamberlain: Entre a confabulação e a guerra, você escolheu confabular, e o pior, você terá a guerra. 


EDUARDO BOLSONARO

Não preciso me alongar sobre ele e meu Leitor já vai ver por quê.

Eu acredito na herança genética, em DNA, na experiência própria e única, tanto quanto nas circunstâncias.

Eduardo é filho de Bolsonaro e, como tal, tem metade de seus genes do DNA paterno. Seu sangue é o mesmo de seu pai, não tem vestígio de liderança. Eduardo, em minha humilde opinião, é um brilhante parlamentar. Se não o melhor, está entre os melhores. Mas sua decisão, independente de fatos e conversas de bastidores, entraram em sua equação para a tomada da decisão de se exilar, seguiu a mesma lógica (interpretação minha): saio do país para, tal como meu pai que saiu da presidência, para trabalhar para resgatar o Brasil de volta à realidade de uma República verdadeiramente Democrática.

Este é o quadro que temos: Jair no Brasil e Eduardo do exterior. O resultado efetivo de suas trajetórias futuras?

Quem viver, verá!


Paulo Vogel

Neste meio, eu sou a mensagem.

Mar/25



[1] "O exílio voluntário (ou autoexílio) é frequentemente descrito como uma forma de protesto por parte da pessoa que o reivindica, para evitar perseguição (...), ou isolar-se para poder dedicar tempo a uma atividade específica." Fonte: IA do Google. Estas duas razões foram expostas por ele em seu já celebre comunicado em vídeo.

 

terça-feira, março 11, 2025

O ALTRUISMO EGOÍSTA

"A própria ingenuidade de um olhar novo (...) 

às vezes pode lançar uma nova luz sobre antigos problemas."

Jacques Monod (1910-1976), filósofo francês, em seu livro "O Acaso e a Necessidade". 


Os conceitos altruísmo e egoísmo, e o consequente tema altruísmo verso egoísmo, têm sido foco de minhas reflexões desde o final da década de 1960, e a partir de quando li, no final dos anos 1970, “O Gene Egoísta” (Selfish Gene), de Richard Dawkins, passei a focar minha atenção para entender as motivações dos diversos comportamentos humanos. Desde então, e pendularmente, me aprimorei - pelo menos em minha autoavaliação – nesta área do conhecimento, isto, portanto, há mais de 50 anos. Já é mais que hora de organizar minhas “conclusões” e passá-las adiante para outras mãos e mentes com o objetivo de expor a máscara de hipocrisia que encobre de moralidade o uso de tais conceitos morais para controlar a ação dos indivíduos e dos grupos sociais em qualquer nível de atuação.


Lá pela metade deste meu périplo mental de 5 décadas, me concentrei em questionar o rótulo-síntese dado por Dawkins a seu trabalho que visou organizar, sob sua visão, as descobertas da genética que entendeu estarem na base da evolução das espécies. Entretanto, o título escolhido, recebeu crítica de acadêmicos e leitos. Seu mote “egoísta” – em inglês selfish – foi assumido como um conceito moral aplicado à ação da genética, interpretação impossível de ser sustentada dada a natureza dos genes.

Um gene é um segmento de DNA formado por uma “sequência de ácidos nucleicos que contém uma receita para produzir uma proteína que exerce função específica” em um organismo vivo. Portanto, um evento absolutamente isento de regras morais, pois os genes são uma unidade biológica sem qualquer consciência, seja de si mesmo, seja de seu papel no processo de constituição dos seres vivos. É isso. Sem considerações adicionais.

Sem crítica à escolha de Dawkins, apenas aponto a razão de muita gente “boa” ter rejeitado de antemão seu trabalho simplesmente por ele ter usado “egoísta” em vez de... em vez de... Fui verificar as alternativas. Achei duas: “self-centered” e “ego-centered”, ambas publicitariamente ruins e sem trazer qualquer vantagem. É,... ele fez o melhor que pôde!

Tal como receita de bolo, portanto, o gene não está nem aí se o forno estava ou não na temperatura certa na hora de ser posta para funcionar. A receita se encerra nela mesma. O gene não sofre as alterações que a minha mãe, sempre desobediente, fazia nas receitas que ela “aprendia”. Tal como Cezar, os genes lavam as mãos para o que acontece depois.

Toda esta introdução para dizer que não é de egoísmo que vou tratar, mas sim, de altruísmo, pretensamente o inverso dele. Por quê? Uma primeira parte da resposta está neste texto, a segunda numa próxima publicação. Avante! "Um por todos, todos por um!". Me perdoem, acabei de ler, aos 76 anos (!!!), "Os 3 Mosqueteiros"!!! Caso típico de adolescência tardia!

Altruísmo foi um conceito proposto no escopo das ideias positivistas[1] de Auguste Comte[2] na primeira metade do século XIX. Ele o definiu como sendo “uma disposição humana que leva as pessoas a se dedicarem aos outros”. Considerava o altruísmo a manifestação do “amor pelos outros” e “como a base da moralidade e um princípio fundamental para as relações sociais”.

Vamos dissecar tais ideias. Para começar tenho dúvida quanto ao que Comte queria transmitir com a afirmação “uma disposição humana”. Seria uma “disposição” inata, genética? Aprendida na educação formal? Sob a influência parental? Ou, última opção, por uma ”disposição” interesseira? Desconfio que tal esclarecimento não seja encontrado em seus textos. Então, lá vou eu fazer minha tentativa!

Pós um olhar para história das relações humanas, dos estupros, dos conflitos tribais, das barbáries, dos genocídios, das guerras, é minha convicção que não está na natureza dos humanos[3] “uma disposição” para “se dedicarem aos outros”, ou manifestarem “amor pelos outros”. É evidente que Comte se inspirou - ele nunca o admitiu - no “mito do bom selvagem”, de Rousseau[4] , a crença de que o ser humano seria naturalmente bom e inocente. 

Ainda sobre a tal “disposição” ser inata, deixo, para sua reflexão a seguinte observação: antes mesmo do cristianismo, já constavam do Antigo Testamento, entre outros, os mandamentos “Não matarás”, “Não cometerás adultério”, “Não roubarás” e “Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo”. Por que seriam necessários tais “conselhos" para uma conduta moralmente positiva  se a “disposição” para o altruísmo fosse uma condição inata no ser humano? É exatamente por esta pré-condição não existir, que dogmas comportamentais estranhos à natureza humana, são "sugeridos" como necessários a se obter, se não a solução, pelo menos uma tendência à estabilidade das relações sociais e à perpetuação no poder do governante da ocasião. Vamos em frente.

Tenho muita dificuldade em aceitar que aprendemos - no sentido de adotar como comportamento - o que quer que seja que contrarie nossa individual e única natureza, o que me leva, por princípio, a descartar a segunda hipótese, do aprendizado. O ser humano não muda pelas circunstâncias, ele se adapta a elas, o que é absolutamente diferente de aprender no sentido de incorporar como regra de vida. Consequentemente a ideia de um pretenso comportamento “altruísta” ser aprendido, seja na escola, seja na família, é uma impossibilidade, a não ser que...

(

Parágrafos entre colchetes são meus, os demais estão na resenha do livro “Manifesto do Altruísmo” de Felipe Kourilsky, feita por Arthur Virmond de Lacerda, Neto .

[Como tantos outros pensadores, Comte foi tendencioso ao que enxergou como “verdade” a ser estruturada para consumo de seus seguidores. Não estou sozinho nesta constatação. Para Jacques Monod, "a importância relativa atribuída à escolha de exemplos, refletem tendências pessoais". E sentencia: "A modéstia convém ao sábio, mas não às ideias que o habitam e que ele deve defender".]

Para Comte, “o embasamento da educação” dos indivíduos deveria passar por “simultaneamente, na razão e no sentimento, ou seja, na cultura intelectual e na afetividade, pelo que a felicidade humana consistirá no maior desenvolvimento possível das afeições benevolentes”.

Segundo Comte, como as atitudes altruístas são, por natureza, as únicas desinteressadas [sic], a moralidade poderia se fundamentar nas emoções. Seria um tipo de “religião da gentileza” (...) [O grifo é meu.]

[E aí Comte se contradiz. Se a busca é “educar pela razão” e assemelhar a uma "religião", então significa impor um comportamento por considerar a natureza humana incapaz de tal fundamento!]

)

A não ser que o altruísmo seja exercido como estratégia pessoal para a obtenção de benefícios práticos, sejam materiais ou espirituais. E chegamos à terceira e última opção.

Antes preciso citar uma outra característica atribuída ao “altruísmo”, a de ser a “ação de ajudar alguém sem esperar nada em troca”. Sem chance. Toda ação consciente, subconsciente ou, até mesmo, inconsciente intenciona uma consequência, um resultado, podendo este ser financeiro, econômico, político, material, espiritual, transcendental, que diabos for, mas sempre e eternamente buscando um retorno imediato ou futuro. 

Me cito a título de exemplo. No âmbito das relações familiares e de amizade, admito e dou graças, sou um privilegiado. Qualquer um dos que integram estes dois grupos foram, são e sempre serão objeto de meu “altruísmo” interessado em ajudar o outro, porque espero que tal atitude tenha como retorno o bem-estar, a alegria de meu ego. Se qualquer um deles me acordar no meio da noite carecendo de ajuda, saltarei da cama em seu socorro como se uma mola me impulsionasse. E a razão para tal disposição é puro suco de egoísmo, interesse psicológico de me sentir maravilhosamente bem sendo aquele que acudiu o familiar ou o amigo! É óbvio que me sinto feliz pelo outro se tudo terminar bem, tanto quanto é óbvio que me sentirei mal por ele se tudo terminar mal, mas, é aí que reside o busílis da questão, mesmo aí me sentirei muito bem por ter agido como agi. E não espero, nem dependo, num casos destes, de qualquer retribuição ou agradecimento. A ação, em si, me basta como recompensa.

Vou pedir que o Leitor dedique alguns minutos para pensar no que vou lhe propor agora. Tente listar uma ou duas ações que você imaginaria fazer sem que tal não lhe desse qualquer retorno a seu ego, qualquer satisfação puramente espiritual. Pense bem, não é lhe dar um retorno pífio, mas sim não lhe proporcionar um retorno mesmo que de um valor mínimo, mesmo que só de um valor puro e levemente espiritual! Proponho de uma outra maneira. Tente lembrar o que você já fez exclusivamente contra você, contra seus interesses, contra sua natureza por livre e espontânea vontade! Mas atenção! Não vale situações similares à do marido que odeia lavar a louça, mas o faz contra a sua vontade, para evitar o mau humor (ou coisa pior!) da esposa. Acrescente ainda uma reflexão sobre por que uma pessoa não se digna ajudar outra quando uma situação demanda[5], direta ou indiretamente, sua ação “altruísta”? 

O tal do “altruísmo” não existia antes de Comte na história humana, já que foi ele o “inventor” do conceito. É que não existia mesmo! O que sempre existiu, existe e existirá para todo o sempre, este sim, é o “egoísmo”, é a atitude guiada pelos sentimentos interiores, pelas percepções dos exteriores – as circunstâncias, diria Ortega y Gasset - e pelas necessidades presentes e prementes.

O “altruísmo” é só o egoísmo de máscara.

Hoje cuidei de um lado desta moeda moral, cujos dois lados, para mim, têm a mesma "cara". Na próxima publicação tratarei do egoísmo e de um outro conceito que, em minha humilde opinião, é o que importa para a vida. Ter dedicado algum tempo sobre a proposta de reflexão que fiz acima, vai ajudar bastante.

Até lá,

Paulo Vogel

Neste meio, eu sou a mensagem!

Mar/25



[1] A filosofia positiva de Comte nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim como sociais, provenha de um só princípio. A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos (...). Fonte: Wikipedia

[2] Isidore Auguste Marie François Xavier Comte foi um filósofo francês que formulou a doutrina e ficou conhecido como "pai do positivismo". Ele é considerado como o primeiro filósofo da ciência no sentido moderno do termo. Comte também é visto como o fundador da disciplina acadêmica de Sociologia. Fonte: Wikipedia.

[3] Sempre que utilizo expressões generalistas do tipo “natureza humana”, quero dizer simplesmente “a grande maioria de”, e/ou que “não é esperado que seja de outro modo”. Neste caso específico, não é que um indivíduo não possa ser “altruísta” por tendência inscrita em seu DNA, é que não é uma condição observada na maioria dos seres humanos.

[4] Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, portanto, 100 anos antes de Comte.

[5] Recentemente minha sobrinha e o marido, estando em uma moto, derraparam em uma curva da estrada. Machucados, mas lúcidos, ficaram sentados na beira da estrada à espera de socorro. Carros e carros passaram sem manifestar qualquer ação “altruísta”, exceto a de um motociclista que parou e lhes deu a ajuda de que precisavam. Qual a razão de seu “altruísmo”? Eu diria que foi seu sentimento de “pertencimento” à classe dos “motociclistas sempre solidários”!

sábado, fevereiro 08, 2025

HÁ DIFERENÇA ENTRE MORAL E ÉTICA?

Para uns sim, para outros não. Para mim...

Creio que todo mundo já se pegou em dúvida quanto ao significado destas palavras. Muitos não chegaram a uma conclusão e simplesmente largaram de pensar. Vida que segue. Mas há quem se apoquente com dúvidas existenciais, ou morais éticas. Éticas? Ou morais?

Eis que assisto no Youtube um “corte” de um podcast[1] exatamente com esta chamada, onde o entrevistado diz, basicamente, serem os termos equivalentes, sinônimos, e sustenta sua opinião na origem etimológica das palavras. Informa ele que “moral” vem do latim “mores” significando “costume”, enquanto “ethos” vem do grego, significando... “costume”. Consequentemente, “moralis” é o estudo dos costumes em latim, e “ética” é o estudo dos costumes em grego. Simples assim!

Huuummmm! Não é bem assim! Não pra mim.

Vamos por partes. Primeiro, e só pra não deixar passar, costumes latinos são idênticos aos costumes gregos? Deixa pra lá, isso não é relevante para esta discussão.

As raízes da língua portuguesa remontam a mais de dois mil e quinhentos anos, o que, em princípio, é uma indicação do significado de uma palavra nos tempos modernos. Mas sendo a língua uma entidade viva, que se transforma por sua características de interpretação subjetiva e maleabilidade de aplicação ao longo do tempo, para se estabelecer o significado presente de um termo, há que se ir um pouco mais fundo na história dos usos dos termos e verificar se não tomaram direções (nuances) diferentes, seja no âmbito erudito, seja no coloquial.

Não me parece ter sido aleatório que Aristóteles tenha dado o título de “Ética a Nicômaco” a uma obra sua que, se não a mais importante, a mais citada, em vez de usar “Moral a Nicômaco”[2]. Em sua escrita, o Filósofo[3]  se dirige ao filho, Nicômaco, mas na realidade  é uma mensagem aos cidadão que viviam sob as regras da polis grega. Não me parece razoável, portanto, que ele tenha pretendido dar “lição de moral” a seu pupilo[4]. Pesquisando na “Grande Rede”, encontrei uma afirmação atribuída ao Filósofo que mostra, IMHO[5], que até ele mesmo estava um tanto confuso quando disse – é o que dizem - que “a moral surge da natureza humana à medida que os seres humanos buscam a felicidade e o bem-estar social”. Danou! 

Analisemos a primeira proposição. Concordo que “a moral surge da natureza humana”, mas a moral nos psicopatas é completamente amoral! O psicopata já nasce psicopata, apenas ele e seus pais só irão descobrir isto quando ele se tornar ministro do STF, quando já será tarde demais.  Desculpem, não resisti!

Quando tratamos da moral, o fazemos como um valor positivo. Quando assumimos que somos indivíduos moralmente íntegros, estamos considerando que somos incapazes de pensamentos, sentimentos e intenções ruins em relação a quem e ao que quer que seja. Quando ajo de acordo com meus valores morais, não estou minimamente preocupado com a opinião, avaliação, interpretação de outrem. Simplesmente me sinto bem porque pensei e/ou agi em nome do bem. Até mesmo a “justiça pública”[6] lida com valores morais. Explico. Aplico a expressão “justiça pública” àquela que lida com os cidadãos a partir de um mesmo conjunto de valores reconhecidos e aceitos por toda uma sociedade. Nesta justiça, não há, pelo menos não deveria haver, nem casos nem indivíduos especiais, “TODOS são iguais perante a lei”[7].

Analisemos agora a segunda proposição. Concordo até “a página 2”[8] que os seres humanos buscam a felicidade e o bem-estar social”. Fora os “mentalmente desequilibrados” em alguma medida, os demais buscam também tal objetivo, pois está até na Constituição Estadunidense[9]. Mas esta não é uma busca moral, pois, me repito, até os psicopatas a buscam, e o fazem com métodos, em sua quase totalidade, amorais, ou até mesmo imorais[10].

E chegamos ao ponto de tratar a “ética” da maneira que a entendo. Acredito que quanto à moral todos estamos de acordo. O problema vem quando nos deparamos com falas, discursos, textos, que citam “a moral e a ética”, pois se os termos têm o mesmo significado, dispensaria o uso de um dos dois, e se são diferentes, teria que estar explicada tal diferença, o que nunca acontece, parecendo que ela só existe nos recônditos da mente inescrutável do autor, se é que lá está!!!

Dita esta baboseira toda, vamos “aos finalmentes”.

Depois de muitos neurônios queimados, esfregados e coçados, apaziguei minha angústia “moral e ética” fazendo a seguinte diferenciação:

  A moral diz respeito ao "ser", ao íntimo, aos valores e atos que praticamos independente da cultura, das regras sociais ou da lei. Em síntese, a moral diz respeito ao que faço quando NINGUÉM está olhando e estou livre de julgamentos. Moral é compromisso com meus valores e não importando como foram adquiridos.·  

A ética diz respeito ao "estar", ao meu exterior, às circunstâncias, às regras que devo respeitar quando inserido na família, na comunidade, numa empresa, em um clube de qualquer natureza e objetivo, em uma cultura, uma sociedade ou país, mas sempre quando devo agir de acordo com regras, independente do meu Ser. Isto, obviamente, se naquele “meio” pretendo me manter, física e psicologicamente, vivo! Em síntese, a ética diz respeito ao que faço quando ALGUÉM está olhando e julgando o que estou fazendo frente a um "código de ética" acordado previamente. Ética é compromisso com valores de outros. Nada mais que “racionalidade prática! para melhor conviver em sociedade, como atribuído a Aristóteles.

Assim como às vezes é nebulosa a fronteira entre o "ser" e o "estar", é nebulosa a fronteira entre a "moral" e a "ética". Me ocorre um exemplo simples: estacionar por "pretensamente" alguns minutos em frente ao portão de uma garagem, é uma questão moral ou ética?

Para responder, talvez ajude observar que a ética não depende de valores morais consequentes da experiência humana vivida por séculos. A ética depende do tempo e espaço em que é exigida, ou seja, a ética é subordinada às circunstâncias. O médico é ético quando exerce sua profissão em estrito respeito às entidades responsáveis por normatizá-las e fiscalizá-las. Aliás, ao se formar e pretender exercer a medicina, há que fazer o juramento de Hipócrates. Com o advogado, é ainda mais evidente quando seu trabalho é de defender um criminoso confesso. Os valores morais, no exercício honesto de uma profissão, e digo, qualquer profissão, não são relevantes frente o “dever ao código de ética” ao qual a atividade em pauta está subordinada. 

Em minhas observações de casos e reflexões, percebi que a moral diz respeito ao equilíbrio e paz de meu eu interior. A ética é o que devo praticar para o equilíbrio e paz com a minha relação com o exterior.

E para quase terminar, vou na mesma “vibe” de exemplo. Algo está muito errado quando um ministro do STF sentencia uma cidadã que escreveu em uma estátua “perdeu mané” - expressão esta dita e propalada por um membro do próprio Supremo -  por estar indignada com o escárnio de um ministro ao povo brasileiro e seu abuso de poder. Quando tal ato é punido com uma sentença similar aplicada a um assassino, um traficante de drogas, um estuprador, um pedófilo, o juiz está sendo absolutamente ético, pois agindo em conformidade, respeito e obediência a interesses e regras ditadas por um grupo que o aprova e sustenta em suas diatribes, por mais que também ele esteja sendo terrivelmente amoral.

Diz Guilherme Freire, o professor e filósofo do podcast, que a “busca da virtude”[11], que significa “rejeitar o vício”, é a base da moral. Você, Leitor, conhece ou consegue imaginar que possa existir um ser humano moralmente psicopata? E um humano psicopaticamente ético?

Fico por aqui.

 

Paulo Vogel

Neste meio, nós, eu e você, somos a mensagem.

Fev/25

 



[1] Podcast Café com Ferri, entrevista o professor de filosofia Guilherme Freire, figurinha já carimbada nas redes.

[2] Por favor, não me considerem pernóstico. Já tentei ler esta obra por duas vezes e não consegui chegar à metade. Se cito Aristóteles é por sua fama de possuir conhecimento e sabedoria em muitas áreas.

[3] O termo "filosofia" foi cunhado por Pitágoras, que o derivou das palavras gregas philo ("amizade", "amor") e sophia ("sabedoria"). 

[4] Ao pesquisar na Wikipedia pelo título da obra, me deparei com a seguinte afirmação: na obra “exposta a sua concepção teleológica e eudaimonista de racionalidade prática (...)”. !!!! Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_a_Nic%C3%B4maco.

[5] Do inglês “In My Humble Opinion”, em português “em minha humilde opinião”.

[6] Em Aristóteles, se encontram definições de “Justiça Geral”, “Justiça Particular” etc. Optei por usar “Justiça Pública” por entender ser mais claro para o que digo.

[7] Artigo 5º da Constituição Brasileira que, desgraçadamente, não vale mais. Eis o que deveria ser respeitado caso valesse: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, (...)”.

[8] É só porque tenho uma tese sobre o “valor maior do interesse” como sendo a busca principal dos seres humanos. Um dia, quem sabe?, mostro minhas ideias.

[9] Assim está redigido o cabeçalho da Constituição Americana: “Nós, o povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma União mais perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade interna, prover a defesa comum, promover o bem-estar geral, e garantir para nós e para os nossos descendentes os benefícios da Liberdade, promulgamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América”.

[10] Amoral: que não leva em consideração preceitos morais; estranho à moral.

Imoral: contrário ao pudor, à decência; libertino, indecente.

[11] “São 4 os elementos da virtude para o homem maduro: Temperança, coragem, justiça (não é igualdade, é senso de proporção no julgamento de equivalência das coisas) e prudência (sabedoria)”. Fonte: o Podcast já referido.